terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Relato de um ser culturalmente desindustrializado

De repente ouço um grito: Sou um excluído!
Respondo em igual tom, questionando: Por quê?

E eis que, devagar e baixinho, vem a resposta:
Enquanto a mídia e os sons automotivos cercados por corpos seminus deliciam-se com seus pagodes e sertanejos universitários – que, diga-se de passagem, não foram criados nem no sertão e muito menos na universidade – sinto-me um ser estranho quando, por provocação, admito, toco os clássicos do rock internacional no fundo de um ônibus lotado ao meio-dia, e todas aquelas 70 cabeças se voltam horrorizadas na mesma direção para onde há cinco minutos tocava um funk pornográfico sem incomodar a ninguém.

Saindo do exemplo e entrando na discussão, o argumento que mais utilizam para tentar me fazer aceitar a música que todos ouvem, é o fato de rock internacional não ser compreensível; e com isso, além de ignorar o fato de que eu posso perfeitamente buscar entender tais letras, eles ignoram também a completa falta de conteúdo compreensível do “tchê rêrê tchêtchê” ou do “oi, oi, oi, dança kuduro”.

Outros afirmam que devemos valorizar o que é nacional, e isto chega a ser patético, sim, pois a boca de pertence a um corpo totalmente coberto por marcas estrangeiras. Contradição óbvia.

Com estes elementos, o que gostaria de demonstrar é que hoje em dia a industrialização cultural e a massificação dos gostos atingiu um patamar tão elevado, que não apenas a “cultura” é vendida ao público, mas também todo um leque de argumentos supostamente incontestáveis para admirar tal cultura, pois além de todos ouvirem a mesma música, todos tem a mesma motivação para isto, bem como para evitar, ou até mesmo ridicularizar, tudo que escapa aos seus determinismos.

A cultura para massa adquiriu quase que consciência própria, se tornou auto eficiente a partir do momento em que foram criadas razões que sustentam o seu alienado consumo, levando a que as pessoas sequer se proponham a experimentar outros gostos, que não o da maioria, por medo de serem ridicularizados, da mesma forma que eles próprios fazem com os demais.

1 comentários:

Marielle Rocha disse...

Concordo com você! É irritante ver uma pessoa não admitir seu gosto musical por exemplo, por medo da reação da maioria e mais irritante ainda é ver a tal pessoa se deixar levar pela influência dessa maioria, adquirindo automaticamente o gosto da mesma...

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