quinta-feira, 4 de abril de 2013

Jornalismo? Para quem?

 A modernização que se processa em terras brasileiras desde a última metade do século passado tem exigido uma estrutura educacional formal capaz de preparar profissionais que correspondam à expectativa de uma economia que se torna cada vez mais dinâmica e robusta. A sofisticação da economia nacional tem sido acompanhada pela proliferação de instituições de ensino básico e de ensino superior no imenso território nacional e criou uma população com níveis de instrução bem superiores àqueles encontrados em outras épocas da história do país. Embora seja habitado por uma população intelectualmente mais madura, o Brasil possui uma imprensa composta por inúmeros indivíduos que parecem atuar no cenário do Brasil colônia. 


 Esses indivíduos parecem se fortificar nos estados e nos municípios menos modernos do país, realizando um trabalho que dá claros sinais de que está sendo conduzido mais pelas vísceras e menos pelo cérebro. A leitura da grande maioria dos textos jornalísticos impressos ou virtuais em Itabaiana e a audição dos programas de rádio neste mesmo município, por exemplo, exigem de nós um enorme exercício de paciência mesmo quando destinamos alguns segundos do nosso tempo para fazê-las.

 Textos de revistas e jornais (impressos e virtuais) e os brados dos apresentadores de jornais nas emissoras de rádio deixam transparecer uma forte negligência relacionada às regras básicas da língua portuguesa e a escassez de conhecimento acerca dos fatos tratados. Os programas de rádio já aguçam a nossa impaciência com os berros dos seus apresentadores ao longo de duas ou três horas seguidas. A impaciência fica mais vigorosa quando as notícias sobre violência ocupam considerável espaço e é divulgado o número de mortos com a descrição minuciosa e tenebrosa das condições físicas do assassinado. A impaciência, parceira mais fiel do ouvinte desse jornalismo, parece tomar conta do cérebro e de todo o corpo quando ocorrem as brincadeiras e as gargalhadas que se seguem à notícia sobre violência ou qualquer outra coisa séria que tenha sido tratada pela equipe do jornal. É bom destacar que as brincadeiras e as gargalhadas não têm vínculo com as notícias trágicas e sérias, mas são no mínimo inconvenientes quando considerada a sequência dos fatos apresentados.

 Por fim, a impaciência chega a subjugar a alma do ouvinte quando apresentador e (quando existem) repórteres do jornal manifestam seus julgamentos fundados em elementos que estão infinitamente distantes da sensatez e da ciência. Se os jornais das emissoras de rádio itabaianenses despertam a impaciência do ouvinte por tudo o que foi dito acima, os textos jornalísticos impressos e virtuais põem o leitor cada vez mais distante da serenidade e da paciência devido ao evidente desconhecimento dos autores sobre o objeto tratado. Os textos são minúsculos, descuidados e, mesmo quando os seus autores pretendem acusar ou defender alguém ou alguma instituição, quando buscam polemizar algo ou quando tratam dos episódios violentos, estão milimetricamente próximos do vazio.
É indiscutível o aumento do nível de escolaridade da população brasileira ocorrido nas últimas décadas, como é também inquestionável a necessidade da gestação de um jornalismo que se distancie do cenário do Brasil do século XVI e que respeite, considere e, portanto, se aproxime da realidade de um país povoado por uma população mais letrada que reúne competências para privilegiar um jornal mais distinto e mais qualificado.

Pedro Everton dos Santos (pevertongeo@bol.com.br) - Professor de Geografia da Rede Pública Estadual de Ensino de Sergipe